Partindo da perspectiva Colaborativa, acredita-se que todos os diálogos têm potencial de serem transformadores. Então é possível sim que uma conversa com um amigo seja terapêutica.
Mas, isso não siginifica que seja a mesma coisa que fazer uma sessão de psicoterapia.
As conversas informais que temos com amigos são recursos importantes para o cuidado com a saúde mental. E assim como não é recomendado que a pessoa fale apenas com seus amigos sobre seu sofrimento psíquico, o psicólogo também não pode ser a única pessoa com quem a pessoa conversa. Os amigos são fundamentais!
Mas, então, qual é o diferencial da terapia?
É uma relação - e talvez a única - onde podemos ser totalmente honestos conosco e com o outro.
O psicólogo não está ali pra te julgar. Nós realmente não estamos interessados em te categorizar como uma amiga/filha/mãe ruim ou boa. A sua honestidade não oferece um risco ao vínculo, o que pode ser diferente com amizades. Muitas vezes, deixamos de falar coisas por receio do que o outro vai achar, mas na terapia não é necessário ter esse medo, porque não interessa muito o que o seu psicólogo acha sobre determinada questão. Importa o que você acha e que significados você cria para as suas questões.
É um lugar para falar apenas de você.
Será que se todas as pessoas aprendessem a ouvir como os psicólogos, a terapia ainda teria sentido? Talvez sim, talvez não...a questão é que atualmente, é provavelmente o único lugar onde podemos falar sobre nós mesmos, sem sermos interrompidos e sem que o outro nos exija nada. A relação com os amigos exige uma troca, não é unilateral, como na relação cliente-terapeuta, onde apenas as suas questões são o foco. E esse momento é importante para que possamos nos olhar com mais profundidade e qualidade.
É claro que a relação terapeuta-cliente não é totalmente unilateral, porque o psicólogo também é um ser humano e seus posicionamentos influenciam na construção do diálogo. Mas o psi é alguém externo à vida do cliente, que se debruça totalmente sobre suas questões.
O psicólogo não irá te fazer sugestões e te dizer como viver sua vida.
Você já teve a sensação de não se sentir escutada? De que precisava desabafar e foi conversar com alguém e a conversa ou só te deixou pior ou não ajudou em nada?
O terapeuta trabalha com diálogo e sabe como conduzir uma conversa que irá te ajudar a explorar suas questões e te auxiliar a chegar nas soluções que busca, mas não irá fazê-lo por você. Não irá te dar uma receita de como ser mais feliz, ou te falar o que funcionou na sua vida pessoal que você pode tentar também. E por isso, as soluções encontradas em terapia são "feitas sob medida", pois são criadas por você e para você. O psi é alguém que - espera-se - tenha trabalhado suas questões pessoais e não irá despejá-las sobre você. Ele conseguirá separar isso para te ajudar da melhor forma possível.
A terapia é um processo, com um caráter temporal de continuidade.
A terapia não é só o que acontece em 50 minutos de sessão. É todo o processo pelo qual a pessoa passa, que pode durar meses/anos. Dificilmente iremos encontrar um amigo específico, uma hora por semana, para falar apenas de nossos problemas. Muitas vezes, é uma conversa pontual, que pode ajudar muito, mas que muito provavelmente não terá continuidade.
E essa noção de tempo permite que consigamos abordar os assuntos com mais profundidade. Podemos passar meses de terapia mergulhando em um determinado assunto, se for isso que o cliente decidir como importante.
Conversar com amigos é fundamental para a saúde. São conversas diferentes da terapia, mas igualmente importantes. Porém, o foco das conversas é diferente.
Inclusive, colocar um amigo na posição de terapeuta pode ser bastante prejudicial para a amizade, pois pode sobrecarregar um dos lados. Amigo é apoio, é acolhimento, mas temos que tomar cuidado para não ultrapassar os limites de alguém colocando-o na posição de psicólogo!
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